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Friday, 1 de Julho de 2005

Texto da crítica

extraído de http://merzblog.zip.net

 

Hoje entramos no 3º dia do segundo turno do projeto de Ocupação, do Paço das Artes. Os artistas estão produzindo e a Ocupação começa a tomar corpo...

 

Começo pelo último trabalho que acompanhei ontem (22.06), (isto é, a performance das artistas Marina Reis, Mariana Meloni e Juliana Pikel, para depois chegar no primeiro work in progress que tive contato nesta mesma data – o projeto de Paulo Gaiad.

 

Percebi a chegada das artistas Marina Reis, Mariana Meloni e Juliana Pikel, no final da tarde. A Mariana se integrou à performance Sangue na Sapatilha, proposta por Stela Fischer e Ingrid Koudela, que, em determinado momento, convidava quem quisesse a participar. Acabou a performance e depois perdi Mariana de vista. Notei que a Renata Barros ainda estava trabalhando e fui conversar mais uma vez com ela.

 

No caminho (achei!), deparei-me com a Mariana, Marina e Juliana (os espaços de Renata e das três artistas são vizinhos). As três artistas – que, com o apóio da Regina Johas, se apropriaram das camas de gato por ela realizadas durante o 1º turno de ocupação em conjunto com visitantes, monitores, outros artistas e nós do grupo de críticos – criaram uma estrutura metálica que abrigasse uma dessas camas de gato.  

 

De um dia para outro, além da cama de gato presa por diversos outros fios dentro da estrutura, havia uma cadeira de ferro que parecia ter pertencido a algum castelo dos tempos dos Cavaleiros da Távola Redonda.

 

Perguntei: posso sentar? Claro que sim. Sentei-me. Com muito esforço, é verdade, afinal era preciso driblar a trama interna de fios para chegar até a cadeira, estreita e desconfortável. Uma vez sentada, eu não conseguia achar posição naquela cadeira: eu me mexia tentando me acertar no assento, mas não funcionava: a cadeira estava localizada no centro da estrutura metálica muito próxima à cama de gato, então meu rosto quase invadiu a cama de gato. Saí de lá, comentei minha experiência com elas, e soube que ali se realizaria uma performance dentro de meia hora. Esperei para ver.

 

As três artistas reapareceram vestidas todas de preto, com figurino criado por elas mesmas (especialmente a Marina, trabalha também com a criação de figurinos), o mesmo tipo de meia calça para as três (preta, com bolinhas vazadas nas laterais da perna), a Mariana e Juliana de botas rasas, e a Marina, de escarpin de verniz salto agulha.

 

Elas traziam nas mãos capacetes de esgrima. Na ré-preparação da performance, elas retiraram a cama de gato do meio da estrutura metálica e a depositaram no chão, à esquerda, e desfizeram a trama de fios que a sustentava dentro da estrutura. Tiraram a cadeira também. Começa a perfomance. Além de mim, algumas monitoras apareceram para ver a performance, assim como a Renata Barros. Não havia público, apenas os envolvidos de alguma maneira com o projeto de Ocupação.

 

As três artistas vestem os capacetes de esgrima. Mariana se afasta da Marina e da Juliana para filmá-las (das três, a Mariana é quem trabalha com vídeo em seus projetos pessoais). As três posicionam-se fora da estrutura. E depois entram caminhando na estrutura, como se estivessem andando em uma passarela. Uma delas se posiciona no centro da estrutura, enquanto a outra caminha e a Mariana filma.

 

A Juliana sai da estrutura e a toca com o queixo. A Marina começa a armar uma trama de fios ao amarrar e esticar um fio dentro da estrutura. A Juliana ajuda a Marina neste processo. E a Mariana filma. Capta takes em close, às vezes se distancia um pouco da cena. Não só as mãos, mas o corpo todo ajuda a tecer a trama.

 

A Marina amarra mais um fio nas extremidades da estrutura, mas usa o corpo da Juliana - agora posicionada dentro da estrutura, no centro - como suporte nessa operação. O fio passa pela perna da Juliana, que carrega uma tesoura nas mãos. A Juliana corta com a tesoura um fio, não o que passa pela sua perna, mas outro na altura dos seus olhos. Depois volta a tesoura para o próprio umbigo.

 

Depois que a Marina entra na trama de fios da estrutura para interagir com a Juliana e amarra mais um fio, um dos braços da Juliana está completamente envolto pela trama de fios da estrutura. Mas, ela consegue se soltar de mais alguns fios novamente. E bate o pé no chão, três vezes. Depois se agacha. E enquanto tenta se desvencilhar dos fios, mais se enrosca – agora sentada no chão.  Já mudou de posição novamente: deitou-se, mas levanta uma das pernas e a movimenta no ar. Quando parecia ter-se acomodado, senta-se novamente. E a Mariana filma....

 

A Marina volta a amarrar mais fios na trama. Enquanto isso a bota da Juliana fica suspensa devido à força dos tantos fios que estão enroscados nela. Leis da física. Agora a Marina amarra mais fios, dessa vez, próximos ao corpo da Juliana. Depois ela se afasta um pouco para trás. A Juliana, incrivelmente, se solta dos fios e agora rasteja sob eles. Não havia observado o que tinha sido feito da sua tesoura, deixada em algum canto, mas o fato é que ela a recupera.

 

Agora, a Juliana pendura um adereço de seu vestido nos fios, para depois recolhe-lo. Ela se reposiciona e sai de dentro da estrutura metálica, com o adereço nas mãos.  Agora começa a cortá-lo com a tesoura. Parou de fazer isso para agachar-se e enrolar alguns fios nas mãos. Depois estende-os no chão. No momento seguinte, a Marina está fora da estrutura, assim como a Juliana. Ambas se encaram e depois enfileiram-se: a Juliana atrás da Marina. Daí a Marina começa a entrar na estrutura e se envolve na trama. Os papéis se invertem.

 

A Marina é que entra na estrutura metálica para envolver seu corpo na trama de fios, enquanto a Juliana fará o papel que era de Marina: amarrar mais fios na trama. A diferença é que a Juliana performou de botas e a Marina calça escarpin de salto algulha...  A estrutura metálica se desloca levemente, de acordo com os movimentos que a Marina realiza entrelaçando seu corpo nos fios.

 

Enquanto isso, a Juliana segura um dos fios, que não está ainda amarrado, apenas toca outro fio. Olho para a Marina e vejo que ela se solta de alguns fios e se envolve em outros. Agora ela se agacha para desvencilhar-se dos fios, mas acaba se emaranhando ainda mais neles.

 

Simultaneamente, como se não estivesse no mesmo contexto da Marina, a Juliana vai tecendo outra trama de fios na parte externa da estrutura. Agora sim, ela se apercebe de Marina e amarra mais fios próximos a ela. E agora volta a tecer fios no lado externo da estrutura.

 

Enquanto isso, Marina tenta desvencilhar-se novamente dos fios, mas um deles prende-se em alguns fios de seus longos cabelos, ao mesmo tempo em que outro fio agarra seu braço. Parece que agora é ela quem procura emaranhar-se... A Juliana vem com outro fio por fora. O salto agulha da Marina se prende em um fio. Parece que a ação não tem fim.

 

O fio enroscado no salto agulha, move os outros fios relacionados a ele, a partir do movimento da Marina, que novamente tenta se desvencilhar deles. Agora a Marina e a Juliana estão dentro da estrutura. A Marina emaranhada, a Juliana não. Por estar livre, a Juliana sai primeiro da estrutura. Logo na seqüência, a Marina, finalmente se liberta da trama, e sai atrás da Juliana. Elas se dão as mãos e depois se separam. 

 

A Juliana sai do espaço da performance e atravessa a obra da Renata Barros. Reaparece com um martelo e pregos e entrega-os a Marina. A Marina crava o prego na parede com o martelo. Depois tira o capacete de esgrima. Agora a Juliana é quem pega o martelo e crava outro prego na parede, mas não tira o capacete.

 

A câmara de vídeo muda de mãos, afinal a Mariana, que até o momento filmava tudo, também irá bater um prego na parede, como as outras duas o fizeram. A Marina pendura seu capacete de esgrima no prego. As outras fazem o mesmo. As máscaras estão todas dependuradas, as performers saem do espaço da ação.

 

A cama de gato, desatrelada do centro da estrutura no início da performance, continua repousando à esquerda do espaço, no chão. Acaba a performance.

 

A Marina, Mariana e Juliana deixaram rastros, possivelmente daquela performance que descrevi sob o título Performance para a câmara de vídeo. Será que já aconteceu outra? As artistas penduraram, além dos capacetes de esgrima, os vestidos e sob eles, na parede, encostaram os sapatos que utilizaram durante a performance.

 

Despeço-me das artistas, que me informam que farão novas performances. Esta que acabo de descrever, aconteceu no dia 22 de junho de 2005, quarta-feira, por volta das 18 horas. Foi bem longa. Descrevo a performance na tentativa de produzir um outro registro que não o fotográfico ou videográfico. Mas, para quem tiver a curiosidade de ver o vídeo ou fotos da performance clique no link abaixo:

 

http://teia.21publish.com